domingo, 16 de fevereiro de 2025

Manifesto contra a legalização da sorte de varas nos Açores


Manifesto contra a legalização da sorte de varas nos Açores

Somos todos Açores e qualquer prática legalizada numa das nossas ilhas implicará a Região no seu todo. Ora, as recentes notícias vindas a público fazem-nos temer que esteja a ser construída uma iniciativa parlamentar, a apresentar à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA), que visa, uma vez mais, a legalização da chamada “Sorte de Varas”, ou “Tourada Picada”, na ilha Terceira (o que significa, naturalmente, verter para os Açores o ónus dessa prática que nada tem a ver com a cultura ou tradição açoriana).

Os cidadãos açorianos já iniciaram um forte movimento de contestação para uma vez mais impedir que se legalize uma prática cruel que, como já referimos, é estranha à ilha Terceira e aos Açores. Muitas são as vozes, de todos os quadrantes da sociedade, mesmo entre os aficionados, que se têm posicionado contra esta prática de crueldade extrema para com o touro, proibida em todo o país e que não se reveste, nas nossas ilhas, de qualquer caráter cultural, tradicional ou identitário. Acrescente-se que, a verificar-se, se trataria da quarta tentativa de legalização desta variante tauromáquica, tendo sido rejeitada, na ALRAA em 2009 por parcos dois votos.

Somos todos Açores e, numa altura de forte aposta no Turismo Sustentável, no Turismo de Natureza, assente sobretudo no respeito ambiental e na estreita e harmoniosa ligação do Homem com a Terra e com o Mar, não consideramos compreensível esta pretensão, que remete para uma forma de sofrimento animal que não é admissível nos dias que correm, e que mancharia, cá dentro e para quem nos visita, a imagem dos Açores – abrindo, além do mais, gravíssimas fendas na sociedade açoriana, que se quer coesa e unida.

Somos todos Açores. Estas nove ilhas do verde e das águas límpidas, das belezas naturais e da comunhão com a Natureza, não merecem isto. Não merecem ficar conotados com uma nova forma de crueldade animal. Não merecem a mancha social e política que a legalização de uma prática deste teor traria para todo o arquipélago.

Porque somos todos Açores, e independentemente de a suposta iniciativa parlamentar chegar ou não à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, manifestamo-nos CONTRA a legalização da Sorte de Varas nos Açores.

Região Autónoma dos Açores, 2025


Subscritores: Adelino Manuel de Jesus Lourenço Ferreira, reformado bancário; Alexandra Manes, Aj. Educação Especialista e ex-deputada à ALRAA; Alexandre Pascoal, gestor cultural; Alexandre Wragg Freitas, investigador; Ana Brum, encenadora; Ana Isabel Newton da Fonseca do Canto e Castro, professora aposentada; Ana Luísa Sarroeira dos Santos, professora; Ana Margarida de Medeiros Henrique, turismo/ agricultura regenerativa; Ana Maria Nogueira dos Santos Loura, engenheira aposentada; Ana Monteiro, instrutora de mergulho; Ana Monteiro, radiologista; Ana Teresa Baía Simões, desenhadora; Ana Teresa Rocha Alves, técnica de estatísticas, aposentada; Ana Sofia da Silva Lourenço Ferreira, guia turística; André Martins, arquiteto; André Silveira, empresário; Andrea Giusti, investigador; Aníbal C. Pires, professor aposentado; Aníbal Raposo, cantautor; António Fonseca, funcionário administrativo; António Henrique Ramos Correia, pintor/artes plásticas; António José do Nascimento Dinis Pereira, oficial de operações de socorro; António Neves, engenheiro e poeta; António Rego, reformado; António Salgado Almeida, médico; Armando Meireles Monteiro, bancário reformado; Basílio Narciso de Sousa, reformado; Beatriz da Conceição Leite de Castro, professora; Bernardette Filomena de Oliveira, professora reformada; Bernardo Peixoto, terapeuta ocupacional; Bianca Mendes, fisioterapeuta; Carla Alexandra Ramos da Silva Nunes, professora; Cacilda Medeiros, reformada; Carla Garcia, educadora social; Carlos Raposo, aposentado; Carlota Pereira Cordeiro, notária estagiária; Carlos Bessa, escritor e professor; Carlos Enes, reformado; Carmélio Manuel Dias Rodrigues, reformado; Catarina Rosa dos Santos Mourato Conceição, bióloga; Catia Benedetti, professora e tradutora; Célia Otelinda Borges Pereira, diretora técnica; César Augusto dos Santos Pereira Silveira Terra, enfermeiro; Chrys Chrystello, jornalista australiano (MEEA); Cláudio Gomes, físico teórico e investigador universitário; Conceição Mendonça, professora aposentada; Conceição Tibúrcio, reformada dos CTT; Daniel Henrique Pena Antunes, guia turístico; Daniela Silveira, Produtora cultural; David M. Santos, biólogo; Diogo Caetano, Geólogo; Duarte Manuel Espírito Santo Melo, padre católico; Elsa Bettencourt, poeta e ilustradora; Elsa Ferreira, Técnica Superior de Reinserção Social; Emanuel Jorge Botelho, escritor; Eva Melo Cunha de Almeida Lima, técnica superior de ambiente; Fabíola Sabino Gil, funcionária pública; Fernando Vicente, professor; Filipe Gomes, Piloto de barra; Filipe Machado Tavares, produtor, cineasta, diretor artístico e presidente da ARTAC; Filomena Dutra Bacalhau, funcionária pública; Filomena de Fátima Rocha Tavarela Ferreira, atriz; Francisco Manuel Serra Nunes, oficial de justiça; Francisco Lopes, arquiteto; Francisco Maciel de Freitas, estudante de Medicina Veterinária Francisco Rosas, realizador e produtor; Frederico Cabral, farmacêutico; Guilherme Lemos Gambier Machado, professor; Graça Silva, técnica superior; Gui Menezes, investigador principal da UAc; Guilherme António Toledo Ornelas Bruges, operador de assistência em escala; Guilherme Henrique Ávila Parreira, técnico de colheitas; Gustavo Adolfo de Sousa Rodrigues Fernandes, engenheiro informático; Helena Medeiros, professora; Helena Melo Medeiros, professora; Henrique Levy, poeta e ficcionista; Helena Maria Massa Flor Franco Carreiro, professora; Henrique Ramos, consultor economia do mar; Herberto Gomes, jornalista; Ildeberto Rocha, radialista e diretor da Rádio Voz dos Açores; Inês Fontes de Meneses, técnica de apoio psicossocial; Hugo Bettencourt, educador de infância; Humberta Brites Dias Jerónimo Araújo, reformada da NAV; Igor Tavares de Melo Espínola de França, arquiteto; Isabel Alexandrina Lemos Gambier Machado, designer gráfica; Isabel Maria Paiva Pinheiro de Magalhães, conservadora/notária aposentada; Isabel Melo de França de Araújo e Abreu, executiva de marketing; Izabel Armas, agrónoma; João Cardoso, assistente científico; João Domingos Marques Araújo, professor; João Mota Vieira, engenheiro; João Paulo Marques Rosa, notário; João Pedro Costa, designer gráfico; João Pedro Leonardo, músico/compositor; João R. Pires Marques, designer gráfico; Joana Traveira Madeira da Silva Fernandes, artista e empresária; Janete Encarnação Alves Chaves Viana, educadora de infância; Jorge Manuel Figueiredo Ventura, Presidente do Clube Naval de Lajes das Flores; José António Contente, professor universitário reformado; José Artur Jácome Corrêa, Reformado da SATA e Presidente da Mesa da Assembleia Geral, do Lar Luís Soares de Sousa; José Bettencourt Costa e Silva, eletricista; Joaquim Melo, investigador; José Decq Mota, antigo deputado regional, antigo coordenador do PCP/Açores e antigo dirigente do associativismo desportivo náutico; José Fernando Borges Mendonça, Chefe dos serviços de contabilidade USFORAZ, aposentado; José Guilherme Teixeira Machado, reformado; José Luís Pereira Santos Gonçalves Neto, arqueólogo; Josefa Bettencourt, educadora de infância; Jéssica Nunes, designer gráfica; José Manuel N. Azevedo, docente universitário aposentado; José Manuel Santos Narciso, jornalista; José Maria Mendonça de Freitas, engenheiro zootécnico; José Pedro Medeiros, bancário; Judite Barros, professora; Juliana Oliveira de Matos, farmacêutica hospitalar; Laura Alves, investigadora; Laura Quinteiro Brasil, cineasta; Lisandra de Fátima Ormonde Sousa Meneses, ajudante de educação; Lizuarte Manuel Machado, Comandante da Marinha Mercante; Leonor Sampaio da Silva, professora universitária; Lorena Correia Botelho, professora aposentada; Lorena de Medeiros Ataíde Freitas, professora aposentada; Lúcia Oliveira Ventura, professora; Lucília Maria Caldeira de Agrela, professora; Luis Filipe Ruas Madeira de Vasconcelos Franco, artista plástico; Luís Miguel dos Santos Almeida, professor; Luís Noronha Botelho, professor aposentado; Luísa Madaleno, educadora de infância; Luísa Ribeiro, funcionária pública e poeta; Marco Varela, operário; Madalena Ávila Rego da Silva, poeta e declamadora de poesia; Manuel Urbano Bettencourt Machado, professor aposentado; Maria Alexandra Terra, enfermeira; Maria Antónia Fraga, professora aposentada; Maria do Carmo Barreto, professora universitária; Maria do Céu Barroca de Brito, professora aposentada; Maria Emanuel Albergaria, mediadora cultural; Maria Francisca Melo de França de Araújo e Abreu, analytical consultant; Maria Gabriela Câmara de Freitas Silva, professora reformada e ex-deputada na ALRAA; Maria João Vieira, professora; Maria Madalena Pires, aposentada; Maria Manuela Martins Rabacal Gonçalves Ponte, docente; Maria Narcisa Lemos Gambier Machado, designer; Maria do Natal Batista de Lemos Machado, reformada; Maria da Natividade Mendonça de Freitas Reis, educadora de infância; Maria Regina de Freitas Silva Meireles Monteiro, tesoureira de finanças reformada; Maria do Rosário da Silva Ferreira, professora; Maria Teresa Ferreira, bióloga; Mariana Freitas Reis, médica; Mariana Caçador Morais Sarmento de Melo, desempregada; Mário Abrantes, Engenheiro Silvicultor; Mário Belo Maciel, professor; Mário Jorge Nunes, arquiteto; Mário Roberto Sousa Carvalho, artista; Margarida Vitória Fonseca, professora; Marlisa Furtado, gestora comercial; Marta Couto, Solicitadora e ex-deputada a ALRAA e dirigente associativa da área ambiental e social; Marta Fernandes Louro Parreira Cruz, Filóloga; Natália Correia, professora; Nelson José da Silveira Pimentel, prof. assistente operacional; Nuno Alexandre Silveira Mendonça, TSDT-Radiologia; Paula Decq Mota, professora; Paula Rosa Vieira Cabral, professora; Paula Sousa Lima, professora e escritora; Paulo Bettencourt Lemos, programador informático; Paulo Matos, professor; Paulo Alexandre Almeida dos Reis, engenheiro zootécnico; Paulo Lopes Lobão, reformado; Paulo Mendes, psicólogo e ex-deputado à ALRAA; Paulo Pacheco Santos, advogado; Pedro Leite Pacheco, professor reformado/agricultor; Pedro Neves, Deputado na ALRAA; Pedro Pacheco, criador de conteúdos digitais; Pedro Perpétuo, engenheiro mecânico; Raquel Raposo, atriz, produtora, diretora de cena e educadora artística; Raquel Valadão, Chef; R. Augusto Marreiros M, magistrado; Regina M. P.T. Tristão da Cunha, aposentada; Renata Correia Botelho, psicóloga; Ricardo Rodrigues, advogado; Rita Costa, bióloga; Roberto Resendes, Assistente Técnico da Universidade dos Açores; Rodrigo Gonçalves, arquiteto; Ronaldo Valadão, técnico superior saúde; Rosa Maria Belo Maciel, professora; Rui Lopes, ilustrador; Rui Suzano, Médico; Rui Teixeira, professor; Sandra Silva Dimas Serpa, professora; Sara Sarroeira, técnica superior de educação especial e reabilitação; Sílvia Fagundes, funcionária pública; Sónia Domingos, professora e técnica de património cultural; Sónia Passos de Barros Borges de Sousa, administradora; Sónia Soraia Rodrigues Luís, operadora de caixa; Susana Lopes Baltazar, professora; Teófilo Braga, professor reformado; Terry Costa, diretor artístico; Tiago Miranda, advogado; Tiago Resendes, engenheiro do ambiente; Valter Peres, produtor cultural; Vamberto Freitas, crítico literário; Victor Medina, professor, aposentado; Vítor Silva, assistente administrativo; Wilson Fagundes, assistente técnico;


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Quando os nossos governantes mentem sem vergonha


É uma falácia dizer-se que não há bem-estar animal na tourada”. Esta estranha e curiosa frase é, no mínimo, desconcertante. Considerando que as touradas estão baseadas, pura e simplesmente, na tortura sistemática e impiedosa dos touros, sem a mais mínima consideração pelo seu bem-estar, podemos concluir que só pode ter sido pronunciada por uma pessoa completamente fora da realidade: por um fanático, por um louco ou, talvez, mesmo, por um extraterrestre.

No entanto, de forma inacreditável, esta frase foi pronunciada por um dos nossos governantes, o Secretário Regional da Agricultura e Alimentação, António Ventura [1]. Todos nós esperamos dos nossos governantes que digam sempre a verdade. Ou, no pior dos casos, que digam coisas duvidosas, ou talvez não completamente verdadeiras. Mas não é aceitável que digam os maiores disparates e barbaridades em público, sem nenhuma vergonha, como se todos nós fôssemos estúpidos. E, pior ainda, que isto não tenha nenhuma consequência.

Esta frase, para além disso, foi pronunciada pelo nosso Secretário num fórum taurino, pago com dinheiros públicos, que não tinha outra finalidade senão promover a tortura animal. E, com isso, sujar o bom nome de todos os açorianos. O nosso dinheiro foi gasto, portanto, num evento destas características, coisa que também parece não vai ter nenhuma consequência.

Mas as barbaridades do Secretário não ficaram por aqui. Ainda afirmou o seguinte: “Eu não encontro uma escola de cidadania melhor do que a tourada” [1]. E para acabar de insultar a nossa inteligência, teve o atrevimento de defender a legalização da “sorte de varas”, um brutal grau de tortura dos animais que inevitavelmente leva às touradas de morte e que representa, sem dúvida, uma das máximas manifestações da degradação humana.

Os toureiros sacrificam a sua vida para salvar a humanidade

Este deplorável nível intelectual ficou bem secundado pelo conjunto de participantes do fórum e dos seus convidados vindos de outros países. Para todos eles, os toureiros são os heróis da humanidade, da ecologia e da ética. Uma ética que, para estes perturbados torturadores de animais, está em crise no mundo moderno. “O matador se predispõe, de forma pacífica, a morrer por ela”, declarou José Parreira, da Tertúlia Tauromáquica Terceirense [2].

E os touros, eles próprios, também sacrificam voluntariamente as suas vidas. Amam tanto ser torturados que, para os participantes deste fórum, é admirável “a sua entrega até à morte na arena”. Para além disso, devido a desconhecidos e fantasiosos estudos veterinários, “não existe nenhum tipo de sofrimento” para os touros durante a lide [3]. É realmente pena os touros não saberem disso, pois supostamente poderiam morrer de felicidade e não devido a um prolongado, cruel e horrível sofrimento.

Por outra parte, o nível dos nossos autarcas, apoiando também o fórum com dinheiros públicos, não ficou muito atrás. A presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, Vânia Ferreira, disse que as touradas são “parte integrante da nossa alma açoriana”. E o presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Álamo Meneses, disse que as touradas devem estar “no centro das preocupações e das responsabilidades” de quem governa [2]. Todas estas declarações políticas, de todo reprováveis, parece que também não vão ter, surpreendentemente, quaisquer consequências.




[1] Açoriano Oriental. 26 de janeiro 2025.
[2] Diário Insular. 25 de janeiro 2025.
[3] Diário Insular. 29 de janeiro 2025.



terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Comunicado do MCATA: Contra o agravamento da tortura animal nas touradas: não à sorte de varas


Contra o agravamento da tortura animal nas touradas: não à sorte de varas

O Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA) condena a terceira tentativa de legalização da sorte das varas, manifestada pelo Secretário Regional da Agricultura e Alimentação, António Ventura, no IV Fórum Taurino que se realizou na ilha Terceira.

Não satisfeitos com a barbaridade que são as touradas, nomeadamente as de praça, os inimigos do bem-estar animal, dos direitos dos animais e dos direitos humanos pretendem que o sofrimento animal seja levado ao extremo, através da legalização das touradas picadas ou sorte de varas (ver anexo), prática destinada a violentar o animal através de vários ataques com uma lança que o levam a perder até um terço do seu sangue.

A agravar a situação, está o facto de o incentivo à discussão do assunto na ALRAA ter sido dado à Tertúlia Tauromáquica Terceirense pelo Secretário Regional da Agricultura e Alimentação, que incoerentemente se apresenta como paladino da defesa do bem-estar animal, alegando ser vantajosa a atual composição da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores para a legalização de tal prática sanguinária.

António Ventura não tem condições para continuar a chefiar uma Secretaria Regional, pois por mais de uma vez demonstrou a sua ignorância e insensatez. Lembramos que, não há muito tempo, afirmou na ALRAA que o touro era um animal que combatia as alterações climáticas, afirmando que a sua alimentação, pastoreio e libertação de dióxido de carbono permitem que se insira nas raças que combatem as alterações climáticas. E que recentemente disse que a tourada é a “melhor escola de cidadania”. A primeira afirmação mostra que não sabe o que são as alterações climáticas e desconhece suas causas e a última é insultuosa para todos os pais e mães, docentes e demais pessoas envolvidas em atividades educativas.

O MCATA apela ao envolvimento de todas as pessoas em ações de oposição às sucessivas tentativas de legalizar a sorte de varas, prática bárbara que não tem espaço numa civilização decente e que constitui um notório atentado à integridade física dos animais e uma atitude que indica um retrocesso legislativo, político, moral e civilizacional que manchará a imagem dos Açores a nível nacional e internacional.

É com muita apreensão que vemos esse retrocesso gritante em relação à proteção dos animais. A cultura e a tradição não podem servir para alimentar práticas medievais que impliquem a tortura de um animal.


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Comunicado do
Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA)
http://iniciativa-de-cidadaos.blogspot.pt/
28/01/2025


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O que é a sorte de varas?

Durante a tourada, e durante um período de aproximadamente 15 minutos, o touro é submetido à sorte de varas. Assim que ele entra na arena é atraído através de uma série de passes com a capa e é submetido à sorte de varas –o "acto” da lança.

Nesta parte, o picador (lanceiro) utiliza a ponta da lança, “puya”, garrocha, que é um instrumento pontiagudo com cerca de 9 centímetros de comprimento, dividido em duas secções: uma ponta em forma de cone de cerca de 3 centímetros e uma outra de aço em forma de corda de cerca de 6 centímetros de comprimento.

Este instrumento destina-se a ferir certos músculos e ligamentos do cachaço, parte superior do pescoço do touro. O objectivo deste acto é facilitar o trabalho do toureiro pois, uma vez que estas estruturas anatómicas foram feridas, o touro não vai ser capaz de levantar a cabeça. “Infelizmente” não é só isso que acontece. É sabido que 90 % das estocadas com a lança são feitas muito mais para trás, onde as vértebras estão muito menos protegidas. Além disso, como resultado de golpes ilegais (proibidos) dos picadores, tais como “furar” (torcendo a lança no pescoço do touro como um saca-rolhas) ou o "entra e sai" (aprofundar e aflorar a lança várias vezes sem a retirar, de modo a que uma lança tem o mesmo efeito como tendo sido utilizada várias vezes, o que impede o touro de fugir quando sente a dor), as feridas são muitas vezes terríveis.

A hemorragia causada por estes métodos faz com que a perda de sangue possa ser de 18%, enquanto a quantidade "desejável" (entre aspas irónicas) é de 10%. Devido a esses movimentos, uma lança pode produzir feridas com mais de 20 cm de profundidade, e entrar no corpo em até cinco sentidos diferentes, ferindo muitas estruturas, inclusive quebrando estruturas ósseas.

Os taurófilos (taurinos) argumentam, que o uso da “puya” serve para "aliviar" o touro da sua bravura e excitação na lide. No entanto, o que acontece com a tortura da “puya” não é um descongestionamento simples, porque o touro assim perde até 10 litros de sangue, visto que, ao se aprofundar e aflorar sucessivamente a “puya”, se chega a provocar uma ferida muito profunda. Outra estatística é que apenas 4,7% do cravar da “puya” consegue cortar os músculos do pescoço e deixar o resto da anatomia local intacta. O que geralmente se corta com má pontaria da “puya” são músculos dos membros anteriores e do tronco. Por isso tropeçam e caiem touros.

Dados: o touro tem cerca de 36 litros de sangue. Com a sorte de varas o animal perde cerca de um terço do sangue, sua força vital. São manobras ilegais do picador (o cravar e tirar, a acção de saca-rolhas e a de perfuração) que fazem a “puya” penetrar mais do que esses 7,6-8,9 cm, sendo que em 70% dos casos as lanças são cravadas por detrás do andiron e da cruz e, aí sendo menos protegidas pelos grandes músculos do pescoço, podem atingir e ferir estruturas ósseas.

(Informação: José Enrique Zaldívar, médico veterinário e presidente da AVATMA; tradução: Vasco Reis, médico veterinário)
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quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Comunicado: Repúdio pelo uso de dinheiros públicos no apoio a evento sobre a tortura de animais


Repúdio pelo uso de dinheiros públicos no apoio a evento sobre a tortura de animais

De 24 a 26 de janeiro realiza-se na ilha Terceira (Açores) o Fórum Mundial da Cultura Taurina, onde será debatido o (pouco) futuro da tauromaquia, ou melhor, da tortura de animais, nomeadamente de touros e cavalos.

Trata-se de um evento, onde segundo os organizadores estarão presentes representantes de 8 países, uma ínfima minoria, atendendo a que neste momento são reconhecidos pela ONU mais de 190.

Num mundo onde cada vez mais são reconhecidos e respeitados os direitos dos animais, alguns cidadãos da ilha Terceira envergonham os Açores ao promoverem um evento onde se promoverá uma prática, a tauromaquia, que já devia estar há muito tempo abolida do mundo civilizado.

Para além dos touros e cavalos que são feridos e mortos para divertimento público, só nas touradas à corda na ilha Terceira morreram, em 2024, três pessoas e um número elevado sofreu ferimentos diversos. Além do referido, nos anos de 2018 e 2019 tiveram de recorrer ao Serviço de Urgência do Hospital de Santo Espírito (Terceira) 56 feridos graves.

Denunciamos a hipocrisia e repudiamos o apoio dado pelo Governo Regional dos Açores, que se arvora em paladino do bem-estar animal, ao referido evento, atitude que é partilhada pelas Câmaras Municipais de Angra do Heroísmo e da Praia da Vitória.

Não ao abuso e à tortura de animais!

Não ao uso de dinheiros públicos para apoiar eventos tauromáquicos!

Açores, janeiro de 2025


Coletivo Alice Moderno
Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA)
Movimento pela Abolição da Tauromaquia de Portugal (MATP)
ANIMAL
Associação Ecologista e Zoófila de Aljezur (AEZA)
Marinhenses Anti-Touradas
Asociación de Veterinarios Abolicionistas de la Tauromaquia y del Maltrato Animal (AVATMA)


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Rechazo por el uso de dinero público en los apoyos a un foro sobre tortura animal

Entre los días 24 y 26 de enero se realizará en la isla Terceira (Azores, Portugal) el Fórum Mundial de la Cultura Taurina, donde será debatido el (escaso) futuro da tauromaquia, o mejor, de la tortura de animales, concretamente de toros y caballos. Se trata de un evento donde, según los organizadores, participarán representantes de ocho países, una ínfima minoría atendiendo a que en este momento la ONU reconoce más de 190.

En un mundo donde cada vez más se reconocen y respetan los derechos de los animales, algunos ciudadanos de la isla Terceira avergüenzan a Azores al promover un evento donde se apoyará una práctica, la tauromaquia, que ya debería estar hace mucho tiempo abolida en el mundo civilizado.

Más allá de los toros y caballos que resultan heridos y muertos para diversión pública, debe referirse que en la propia isla Terceira murieron tres personas el año pasado en los numerosos festejos realizados con toros ensogados y un número elevado sufrió heridas diversas. De hecho, se sabe ahora que en los años 2018 y 2019 ingresaron en el servicio de urgencias del hospital, por este motivo, un total de 56 heridos graves.

Repudiamos así el apoyo dado al referido evento por parte del Gobierno Regional de Azores y denunciamos la hipocresía de éste, al publicitarse a sí mismo como defensor del bien estar animal, en una posición que es compartida por los dos ayuntamientos de la isla, Angra do Heroísmo y Praia da Vitória.

¡No al abuso y a la tortura de animales!

¡No al uso de dinero público para apoyar eventos tauromáquicos!

Azores, enero de 2025


quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Comunicado do MCATA: Balanço mortal das touradas à corda realizadas em 2024


Balanço mortal das touradas à corda realizadas em 2024

Durante o presente ano de 2024, três pessoas morreram nas touradas à corda realizadas na ilha Terceira. Os falecidos foram um homem de 58 anos, morto no dia 1 de junho, em Angra, um homem de 52 anos, morto no dia 29 de junho, em Porto Martins, e um homem de 62 anos, morto no dia 3 de agosto, em São Bartolomeu dos Regatos. No entanto, poderá ter havido mais alguma morte que não tenha sido publicamente noticiada, algo que é bastante habitual, sendo também desconhecido o número de feridos graves, os quais poderão talvez ter originado algum outro falecimento.

A trágica morte de uma ou várias pessoas é infelizmente algo habitual, todos os anos, como consequência das touradas à corda realizadas na ilha Terceira. No passado ano, por exemplo, foi conhecida a morte de outra pessoa, um emigrante, numa tourada realizada durante as festas Sanjoaninas, em Angra do Heroísmo. E no balanço dos anos anteriores há quase sempre que lamentar igualmente uma ou várias mortes.

Para além dos falecidos, o número de pessoas que sofrem ferimentos graves durante as touradas à corda é também consideravelmente elevado. Segundo os dados de um recente estudo realizado no Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira, uma em cada dez touradas à corda acaba com um ferido grave. Destes feridos, quase todos eles, nove em cada dez, são pessoas que assistem como público às touradas. E um em cada cinco, de forma bastante significativa, são turistas que se encontram de visita na ilha.

Segundo o referido estudo, durante os anos 2018 e 2019 chegou ao serviço de urgências do hospital um total de 56 feridos graves. Entre eles, cinco pessoas com ferimentos traumáticos muito graves e uma com forte risco de morte. Como consequência disto, uma pessoa teve de ser transferida para outro hospital, seis precisaram de intervenção cirúrgica urgente em bloco operatório e três foram internadas na unidade de cuidados intensivos.

Mas a violência das touradas não afecta unicamente as pessoas. Também afecta, muito gravemente, os animais que são forçados a participar como vítimas nesta retrógrada tradição. O número de touros feridos e mortos é, todos os anos, muito elevado. Sem existirem estatísticas sobre este assunto, pode citar-se o exemplo duma tourada à corda realizada no dia 18 de agosto do passado ano na Agualva, onde morreram quatro dos touros utilizados, um deles na própria tourada e três sacrificados posteriormente devido aos graves ferimentos sofridos. E nesta mesma freguesia, já no presente ano, outro touro morreu também em idênticas circunstâncias.

Perante esta contínua e incessante tragédia, podemos fazer a seguinte pergunta: é aceitável, em pleno século XXI, a existência de uma festa na qual morrem ou podem morrer as pessoas que participam nela? É divertido assistir às lesões, aos ferimentos graves ou à morte de pessoas?

Para além disso, pode considerar-se como uma festa acossar e maltratar reiteradamente animais com a única finalidade de divertir-se? Este ano, em Angra do Heroísmo, e não é a primeira vez que isto acontece, os participantes chegaram ao extremo de obrigar a ingerir álcool a um dos touros utilizados numa tourada.

Afinal, será que não existe mesmo outro tipo de festas, livres de toda a violência, onde ninguém tenha de lamentar a morte de um familiar e onde nenhum animal tenha de ser acossado, maltratado ou morto? Ou alguém acha que as pessoas mortas e feridas, sempre que não sejam parte da própria família, fazem necessariamente parte da diversão duma festa?


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Comunicado do
Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA)
http://iniciativa-de-cidadaos.blogspot.pt/
14/11/2024


terça-feira, 2 de julho de 2024

Outro morto em tourada à corda


Homem de 52 anos, natural do Faial, colhido por um touro durante uma tourada à corda na freguesia de Porto Martins (Terceira) no dia 29 de junho. Acabou por falecer depois de ser transportado de urgência para o Hospital de Ponta Delgada.


sexta-feira, 21 de junho de 2024

Carta enviada à Comissão Nacional de Proteção das Crianças


Exma. Sra. Rosário Farmhouse
Presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens

Queremos alertar para uma situação de evidente perigo físico para crianças e jovens e de clara violação dos Direitos das Crianças a acontecer em próximos eventos, agendados pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (Açores), no âmbito das suas festas municipais, relacionados com a tauromaquia.

Está agendada para o dia 26 de Junho, às 10h, na Praça de Touros Ilha Terceira, um “Espectáculo Taurino para Crianças e Idosos”, também anunciado como “Aula Prática de Tauromaquia”. Neste evento, destinado a crianças, está anunciada a presença de um cavaleiro, um grupo de forcados e um bezerrista.

No dia seguinte, 27 de Junho, às 12h, na Rua de São Joâo, está agendada uma “Espera de Gado Infantil” com presença de touros, supostamente bezerros.

O anúncio destes eventos consta na agenda da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (https://sanjoaninas.cmah.pt) e são referidos, com mais pormenor, no Diário Insular de 4 de Junho.

Não é a primeira vez que são realizados este tipo de eventos integrados nas Festas Sanjoaninas do referido município. Na realidade, tem sido uma prática habitual em todos os anos anteriores à pandemia, estando novamente a ser realizados na actualidade. Isto apesar das nossas reiteradas denúncias públicas sobre o perigo e o contínuo maltrato das crianças.

Nas esperas de gado e outros eventos semelhantes as crianças e jovens são colocados em contacto directo com animais, aos quais, ao mesmo tempo, são incitados a agredir. Nos espectáculos taurinos e corridas de touros são obrigados a assistir à tortura sangrenta e impiedosa dos animais, não existindo nenhuma limitação de idade para assistir, sendo inclusivamente levadas à praça crianças do pré-escolar.

Estes eventos, infelizmente, não se limitam a estas festas e a estas datas. De facto, costumam ser repetidos, apenas um mês depois, nas festas concelhias do vizinho município da Praia da Vitória, com o qual é compartilhado o uso da Praça de Touros, com os mesmos promotores deste tipo de eventos.

O contínuo desrespeito pelas leis portuguesas sobre a idade de assistência a este tipo de espectáculos sangrentos e a contínua violação da Convenção dos Direitos das Crianças da ONU, que considera violência contra as crianças a presença nestes eventos de menores de 18 anos, requerem sem dúvida uma condenação e uma intervenção firme e decidida.

Assim, solicitamos a intervenção da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, nos termos que considere mais adequados, para conseguir a efectiva e necessária protecção das crianças na ilha Terceira.

Atentamente,

Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores
Movimento pela Abolição da Tauromaquia de Portugal

20 de Junho de 2024