Quando me desafiaram a escrever para
esta página, enquanto Açoriana e Terceirense, não sabia bem o que
podia dizer que já não tivesse sido dito nos últimos 100 anos,
acerca de tradições bárbaras que teimam, à custa de poucos, em
persistir.
Aproveitei, então, a oportunidade para
juntar um outro assunto não menos incómodo: a base das Lajes, que a
juntar-se às tauromaquia fazem da ilha um ponto de repúdio por
parte de todas as pessoas que desenvolveram sentimentos
anti-militaristas e têm o mínimo de sensibilidade perante questões
de direitos humanos e ambientais.
Não nos falta nada, criamos animais
para nos divertirmos a humilha-los e ganhamos uns trocos à custa de
guerras mais ou menos explicitas. Estamos manchados de sangue e
sofrimento, e essa mancha cobre o nosso povo de vergonha.
Falharam redondamente ao atribuírem
uma cor à Terceira. Lilás? Como pode ser lilás? Lilás é cor das
lutas pelos direitos humanos, pela igualdade de género, pela
liberdade e igualdade sexual. Lilás é o que dá cor às lutas
sociais por um mundo mais justo e digno.
O lilás dissolve-se quando falamos da
Terceira. Dissolve-se em cores tristes, humilhantes e desonestas,
quando desta ilha só conhecem uma base militar, que nos coloca nos
itinerários de guerras que não nos pertencem, e a tauromaquia que,
inacreditavelmente, merece mais atenção e “cuidados” - pois
sabemos que à custa dela poucos ganham muito – do que o estado da
educação ou políticas de ação social de combate à fome na
infância, por parte de autarcas e deputados regionais.
Lilás, dizem eles.
Querem que tenhamos orgulho. Do quê?
De sermos incapazes de aplicar as tradições ao conhecimento que a
humanidade tem hoje? De sermos representados no Parlamento Regional
por portadores de pensamentos e discursos saídos dos anos 50?
Orgulho em termos ficado conhecidos por termos recebido Blair, Bush,
Durão e Aznar quando decidiram matar milhões, durante a Cimeira das
Lajes/ Cimeira da Guerra?
Ilha lilás, querem que acreditemos.
Orgulho teremos quando já não
tivermos vergonha. Orgulho teremos quando tivermos a coragem de
romper com o passado que nos incomoda. Orgulho teremos quando não
nos pertencer o auge do conservadorismo e moralismo. Orgulho teremos
quando não estivermos na lista de sítios a boicotar por humanistas
e ecologistas. Orgulho teremos quando deixarmos de financiar a
barbárie e mais ninguém viver à custa da violência.
Talvez esteja na hora de fazermos juz à
cor que nos deram, meu povo!
Vivemos tempos de mudança, em que os
ataques e roubos que fizeram às bases sociais ficaram a olho nu. A
educação, a ação social, a saúde, a cultura que desenvolve o
espírito e pensamento critico, não podem continuar a ser o parente
pobre, o filho bastardo, os restos do prato das políticas dos
governantes e representantes da ilha.
Talvez esteja na hora de dizer basta e
exigir um presente e futuro dignos, que não nos envergonhem mais.
Está na hora de ser lilás!
Francisca M. Ávila
Santiago do Chile
Nobres palavras.
ResponderEliminarGOSTEI....FORÇA !!!!!
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