Publicado originalmente em: O Baluarte e Açoriano Oriental
Nos últimos dias, a propósito das festas de Viana do Castelo, muito se tem falado de touradas.
Nos últimos dias, a propósito das festas de Viana do Castelo, muito se tem falado de touradas.
Em 2009, Viana do Castelo tornou-se oficialmente uma cidade antitourada, integrando a rede de cidades saudáveis. A decisão, para além de pacifica acolheu a simpatia dos Vianenses e de gente de Portugal Continental, ilhas e por outros cantos do mundo.
Nos últimos tempos, o lóbi tauromáquico tem enfrentando grandes dificuldades. Dificuldades essas que não são mais do que os frutos de um desenvolvimento social, cívico e do crescimento de uma conscencialização ecológica. Por outras palavras: progresso.
As investidas do lóbi tauromáquico para contrariar e estagnar o desenvolvimento da consciencialização social das populações têm sido um tanto desastrosas para si próprios e benéficas para a causa antitourada.
Há não muito tempo, aquando dos projetos de lei do Bloco de Esquerda e PEV, que entre eles, sugeriam o fim dos apoios públicos à tauromaquia, rapidamente saltaram vozes que juraram de pés juntos que a tauromaquia, para além de não receber um cêntimo do Estado, eram rentável para as autarquias. Essas afirmações passam a ser particularmente curiosas quando se tem conhecimento da afluência de empresários tauromáquicos à sessão pública, organizada pelo BE, para discutir as mesmas propostas. Dizem as noticias que a sessão ficou marcada por insultos por parte dos aficionados, diz, quem lá esteve, que ficou ainda marcada pela falta de capacidade de argumentação e por um vocabulário pobre e desarticulado dos aficionados, confirmando assim (e eu nunca precisei de confirmação) as personalidades tendencialmente agressivas de quem assiste a touradas, e a baixa instrução de quem não tem a capacidade de adaptar tradições à realidade atual.
Mas afinal, se as pessoas que vivem às custas das touradas não recebem apoios públicos, porque se apressaram em ir defender o seu “quinhão”? Não faz sentido, é pouco credível. Se houve quem acreditasse na inexistência de apoios deixou de acreditar. No meio das trapalhices aficionadas, ganhou a causa antitourada.
Em Viana a situação repete-se. A elevação da cidade a primeira cidade antitourada de Portugal agradou a população. Agora, os aficionados, em mais uma investida atrapalhada, sem capacidade de medir as consequências, decidem fazer uma tourada em Viana.
A população foi clara: não os querem lá. A tourada em Viana foi polémica por vários motivos: primeiro pelo desrespeito do lóbi tauromáquico pela cidade e pelas suas gente; segundo pelo desrespeito ao poder local; terceiro porque uma tourada nunca é uma coisa boa.
As condições em que o circo foi montado, gerou a indignação de muita gente, por se traduzir em mais um ataque ao poder local - afinal os tribunais podem contrariar a vontade do povo para servir interesses de lóbis? Depois de todos os ataques dos últimos tempos, ainda há quem respeite o poder local em Portugal? A população de Viana sente-se desrespeitada, viram a sua vontade violada e as suas festas manchadas. A causa antitouradas cresceu.
Outro episódio curioso são as investidas na ilha de São Miguel. Há dois dias, na minha passagem pelo aeroporto de Ponta Delgada, a caminho da minha terra natal - Angra do Heroísmo, deparei-me com um quiosque que transmitia a barbárie da minha própria terra - a tourada à corda. Primeiro chamou-me a atenção as expressões das pessoas que olhavam para um monitor. Eram turistas, provavelmente nórdicos pela cor da pele e cabelo e o seu olhar era claro como água: o repúdio total. Achei ainda curioso os comentários de senhoras com alguma idade que de forma pausada e com o sotaque próprio da ilha diziam algo como “mas perquié quéssa gente não se põe a lê um livre em vez d'a atormentá os biches? Ome, certamente!”. Prova de que não é preciso estar-se na “flor da idade” para perceber o óbvio. No aeroporto de Ponta Delgada, parece ganhar também a causa antitourada.
O desespero de quem vive à custa de uma prática bárbara como a tourada, têm-se tornado, de maneira implícita, um aliado da luta pela fim das touradas em Portugal (sem esquecer os Açores) e no Mundo. Há que saber continuar a tirar todo o proveito dele.
Os touros, cavalos e toda uma sociedade que repudia a violência gratuita, agradecem aos desesperados.
Francisca M. Ávila
Angra do Heroísmo, 21 de Agosto de 2012
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