Com
o título acima, atribuído a Albert Einstein, não pretendo enxovalhar
ninguém. Com efeito, não sou dono da verdade e compreendo que, por
motivos de educação ou falta dela ou outros quaisquer, alguns animais
ditos racionais pensem e agem ainda que anacronicamente. Além disso, há
tradições (boas) e tradições (más).
Hoje,
irei recordar um pouco uma tradição que, felizmente, acabou na minha
terra natal e referir-me, a propósito, a uma outra atividade, a
tauromaquia, que ainda subsiste, muitas vezes agarrando-se ao argumento
da tradição.
Durante
a minha infância e juventude, as festas do Divino Espirito Santo, na
Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, tinham um dia especial a que nós
designávamos por “sexta-feira dos gueixos”. Neste dia, dezenas de touros
e bezerros eram enfeitados por cada criador e desfilavam pelas ruas da
localidade e por algumas freguesias vizinhas e no final do desfile
dirigiam-se para as margens da ribeira, onde alguns eram arrematados por
alguns comerciantes, outros, nomeadamente os mais novos, voltavam, para
as pastagens e outros, ainda, eram abatidos, debaixo da ponte, e a
carne depois era uma das componentes das pensões que eram dadas aos
criadores e a todos os viúvos e pobres da localidade.
Ao
abate, assistiam não só adultos, homens e mulheres, mas também algumas
crianças. Sobretudo as mulheres e algumas crianças transportavam consigo
alguns recipientes para a recolha de sangue o qual depois era levado
para casa e era usado na alimentação.
O
abate era feito geralmente por homens experientes, que algumas vezes
deixavam algum rapaz, sobretudo filhos, também o fazer. O animal era
esfolado no local, as peles eram recolhidas, postas a secar e depois
vendidas, e as vísceras eram atiradas à ribeira que as transportava até
ao mar.
O
fim desta tradição secular, talvez tão antiga como outras que ainda
persistem, deveu-se a imposições legais e deverá ter ocorrido quando o
atual matadouro de Ponta Delgada foi construído (?).
A
proibição de abater os touros na ribeira, que foi muito comentada na
localidade, acabou por ser acatada sem qualquer resistência e saudosismo
por parte da população e sem ter suscitado qualquer crítica por parte
dos chamados homens de cultura de Vila Franca do Campo. Com efeito,
todos perceberam que o mundo não pára, que as sociedades evoluem e que o
que há a fazer é, sempre respeitando as opções dos nossos antepassados,
evoluir e ninguém evolui agarrando-se às tradições sejam elas quais
forem.
Embora
não se possa esquecer que a tradição é como o colesterol, havendo o bom
e o mau, o que está em causa, hoje, no que respeita às touradas não é a
manutenção de uma tradição, que do meu ponto de vista não faz qualquer
sentido, pois assenta sobre o sofrimento, maior ou menor, de seres que
deveriam ser alvo da nossa compaixão.
Não
se trata da manutenção da tradição, pois o que se está a pretender, no
que diz respeito às touradas de praça, é o incremento da tortura animal,
com a legalização da sorte de varas, como primeiro passo para os
sonhados touros de morte.
Não
se trata da manutenção da tradição pois o que se está a fazer é tentar
aumentar até ao infinito as touradas de corda classificadas como
tradicionais, ao mesmo tempo que se está a tentar espalhar a indústria
tauromáquica para ilhas onde ela não existia.
Se
o objetivo fosse divulgar as boas tradições terceirenses o que se
promovia era uma das melhores manifestações da cultura popular açoriana,
o Carnaval da ilha Terceira com as suas danças e bailinhos.
Por
último, queria afirmar a minha total concordância com Ana Chaves que,
sobre o assunto, muito recentemente escreveu: “Mas se queremos manter as
tradições, voltemos à Inquisição e à morte na fogueira, voltemos ao
Circo Romano onde os cristãos cantavam, sem temor, enquanto aguardavam a
morte.”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 9 de Maio de 2012)
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