publicado originalmente no jornal Açoriano Oriental
15 de Novembro de 2012
O
programa Biosfera (rtp2) dedicou a sua última edição à “arte da
tauromaquia”.
Sem
qualquer intuito de ser parcial, ao longo da cerca de meia-hora de
programa, ouvindo aficionados e abolicionistas, o programa termina
com uma clara expressão da atual situação.
O
programa realmente deu que pensar e deixou no ar várias questões.
A
primeira é percebemos que parece ter virado moda de ir à tv usar
palavras descontextualizadas, como “refundação”, ou sem saber o
seu significado quando ouvimos o representante da Prótoiro a
referir-se ao estatuto de cidade anti-tourada de Viana do Castelo
como “ditadura cultural”. O que queira lá isso dizer, o que é
curioso aqui é ser dito por um representante de uma associação
fundada por pessoas de extrema-direita ligadas a movimentos
fascistas, fãs de regimes ditatoriais. Dá que pensar.
A segunda
questão é a dos subsídios públicos, que nos Açores são
absolutamente escandalosos. Quando no inicio do ano, a Prótoiro
jurava a pés juntos que a tauromaquia não recebia um tostão do
Estado, agora parecem ter mudado o discurso dizendo que “não
recebem do Estado Central”. O que queira lá isso ser, esse novo
conceito de “estado central” - o Estado é um todo de pessoas e
entidades públicas -, o certo durante o programa bastaram 5 minutos
para se contradizerem quando o responsável por um museu tauromáquico
(onde toda a tauromaquia deveria estar) reconhece que o Estado
concede subsídios à tauromaquia. Dá que pensar.
A
terceira questão é o facto curioso de que no mesmo dia em que o
novo presidente da Região Autónoma dos Açores tomava posse, no
programa Biosfera foram recordados os subsídios públicos
atribuídos às touradas pela Secretaria Regional da Economia,
dirigida até então pelo atual presidente do governo regional - o
presidente que agora promete focar-se na criação de postos de
trabalho. O certo é que, o conjunto do subsídios concedidos à
tauromaquia só em 2012, podia ter criado alguns postos de trabalho,
nos Açores, e pago bastantes salários dignos durante um bom período
de tempo. Dá que pensar.
Por fim,
ouvimos o representante da Prótoiro dizer que os animais não têm
direitos porque não têm deveres. Por essa (i)lógica, poderíamos
perguntar, a quem pensa do mesmo modo, o que têm a dizer sobre as
crianças. Mas mais interessante, para nós Açorianos, seria ouvir
dissertar sobre os deveres dos aficionados. Por exemplo, o que dizer
sobre os deveres políticos e sociais do presidente da Câmara
Municipal da Lagoa, em São Miguel, que viola leis para promover
vacadas no concelho?
Quais os
deveres dos empresários da tauromaquia para combater a economia
paralela? Quais os deveres dos políticos aficionados para garantir
um bom uso e gestão dos nossos impostos? Quais os deveres dos
aficionados no contributo para um desenvolvimento social e para uma
sociedade justa e sem violência?
Dá que
pensar.
Francisca
M. Ávila
Sem comentários:
Enviar um comentário
ATENÇÃO: Comentários com conteúdo ofensivo e de teor preconceituoso serão eliminados